Pitágoras é constantemente citado quando se fala sobre a origem da Numerologia.
Mas os Números na filosofia pitagórica têm numa dimensão muito diferente da que é considerada na Numerologia atual.
Eles não estão associados a uma análise pessoal, porém, à uma Cosmovisão.
Portanto, mostro aqui a relação entre o pensamento grego e a concepção dos Números Pitagóricos.
OS ANTIGOS GREGOS E SUA RELAÇÃO COM OS DEUSES
Até o século VII a.C os gregos tinham uma explicação mitológica para todos os acontecimentos. Então, tudo o que ocorria estava relacionado tanto às vontades, como humores e paixões dos deuses do Olimpo.
Assim, era importante conhecê-los em suas particularidades a partir dos seus mitos e estórias, coletadas e contadas pelos poetas Homero e Hesíodo.
Grandes templos eram construídos para cultuá-los.
Por isso, era necessário agradá-los com sacrifícios e oferendas, para que os homens pudessem fugir de sua ira e obter seus favores.
Entretanto, neste período surgiram os primeiros filósofos na Jônia, colônia grega na costa da Ásia Menor ( atual Turquia ), trazendo uma renovação no pensamento religioso da época.
Delineou–se um novo enfoque para entender o universo, não mais centrado nos deuses, mas na busca de um Princípio Primeiro, que eles chamaram de Arché.
A BUSCA DA ORIGEM DO UNIVERSO ( ARCHÉ )
A grande questão que mobilizava estes filósofos era: de onde veio tudo? qual era a origem do universo e de tudo o que conhecemos?
Pela primeira vez, havia a crença de que, atrás dessa aparente diversidade, havia uma Unidade Primordial, da qual tudo e todos participariam.
Mas qual era esse Princípio Criador? Diversos filósofos desenvolveram teorias e tentaram investigar essa questão. Surgiu aqui a Metafísica, a Ciência dos Princípios Primeiros.
OS FILÓSOFOS E SUAS TEORIAS
Tales de Mileto foi o primeiro representante da Escola Jônica.
Considerado um dos 7 sábios da Antiguidade, era astrônomo, matemático e estudou Geometria com os egípcios.
É dele o provérbio “Conhece-te a Ti Mesmo”.
Ademais, Tales considerava que o Cosmos era Uno, e a Água era o símbolo da Unidade Primordial.
Dizia também que todas as coisas estavam impregnadas do divino.
Seu discípulo, Anaximandro ( também matemático e astrônomo, e da cidade de Mileto ) considerava, por sua vez, que a Substancia original só poderia ser anterior aos 4 elementos ( uma vez que o Limitado não poderia criar o Ilimitado ), e a chamou de Apeíron ( o Indeterminado, o Ilimitado ).
Para ele, o Ilimitado era eterno, imortal e indissolúvel, e todas as coisa viriam dele e se dissolveriam nele ciclicamente.
Anaxímenes de Mileto, ouvinte de Anaximandro, acreditava que esse Princípio Criador de toda a realidade só poderia ser o ar.
Porquanto, dizia que como nossa alma, que é ar, nos governa e sustêm, assim também o sopro e o ar abraçam todo o Kosmos.
Heráclito de Éfeso apontou o fogo como o elemento Primordial, através do qual todos os outros elementos existiriam e se transformavam.
Outros filósofos vieram posteriormente, mas as duas maiores influências sobre Pitágoras foram Tales e Anaximandro de Mileto.
PITÁGORAS
Pitágoras nasceu no século VI a.C em Samos, uma grande ilha próxima da Jônia.
Viajou muitas vezes para lá em sua juventude, a fim de assistir às preleções dos filósofos.
Solicitou à Tales que o aceitasse como discípulo – o que Tales recusou, sugerindo-lhe que fosse ao Egito para aprender com os sacerdotes dos Templos, como ele mesmo tinha feito.
Também estudou então com Anaximandro, antes de aceitar o conselho de Tales e viajar para o Egito, e posteriormente para a Babilônia, permanecendo fora durante muitos anos.
Quando voltou, quase 20 anos depois, fundou a sua Escola de Sabedoria, primeiro em Samos ( o Hemiciclo ), e posteriormente, em Crotona, na Itália, para onde emigrou.
Como Tales, também como Anaximando e os filósofos jônicos, Pitágoras se dedicou à busca da origem das coisas. Para ele, os Números eram os Princípios Criadores de toda a realidade.
OS NÚMEROS SAGRADOS DE PITÁGORAS
Quando ele afirmou que todas as coisas são Números, ele dizia que os Números eram princípios universais, que tinham uma dimensão sagrada e que estavam relacionados a todos os aspectos da vida do homem.
Pitágoras e seus discípulos estudavam tanto Matemática, como Geometria ( disciplinas importantes na educação grega no século VI a.C. ) em sua sociedade. Porém, trouxeram uma nova dimensão à essas ciências.
Para eles, os Números não estavam associados apenas à função quantitativa, mas representavam ideias abstratas e forças criadoras do universo.
Aqui a Matemática se unia à filosofia na busca das leis invisíveis que regem o universo.
O KOSMOS COMO UNIVERSO ORDENADO
Os pitagóricos relacionavam também os Números à formas e diagramas geométricos, procurando utiliza-los como modelos do Todo Cósmico e da Ordem Celestial.
O estudo da Geometria buscava compreender como o universo é ordenado.
Pitágoras utilizou a palavra Kosmos, que significa “mundo ordenado” e relacionou-a ao universo, trazendo a noção de que o universo é maravilhosamente ornamentado com ordem.
Conhecer o Kosmos era buscar e compreender os elementos divinos do universo.
Desta forma então, os pitagóricos vivam em comunidade, dedicando-se ao estudo dos Números.
Conhecê-los, através da Matemática e da Geometria, habilitava a mente “terrena” a compreender a maneira como o universo era ordenado e sustentado.
REALIZAR O KOSMOS EM SI
Portanto, os Números para Pitágoras eram Princípios Sagrados.
E como o homem é um microcosmos que contém todos os elementos do universo maior, ao buscar compreender os Princípios Universais que constituem o Kosmos, ele poderia alcançar o objetivo maior de todo pitagórico – realizar em si mesmo o Divino.